A BNCC, a educação integral e o território
O projeto Nosso Paraitinga: Diálogos Roda D´Água estabelece uma relação entre as diretrizes curriculares propostas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), o estudo do território e a escola, desejando desta maneira contribuir para um processo educativo crítico, criativo e comprometido com o desenvolvimento cognitivo e socioafetivo das crianças e jovens do município de São Luiz do Paraitinga.
A BNCC faz parte dos parâmetros e diretrizes para a educação básica que todos os entes federativos precisam seguir para construir seus projetos políticos-pedagógicos e seus currículos. Embora a BNCC estabeleça as diretrizes e competências comuns para todas as escolas do território nacional, garantindo uma formação básica comum para cada etapa do ciclo básico (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), ela também reconhece que os currículos precisam ser diversos, pois necessitam dialogar com as especificidades de cada lugar onde a escola está inserida, bem como com a diversidade de seus estudantes.
O conceito de competência ganha relevância e centralidade e é por meio desta compreensão que os currículos deverão ser organizados. Assim, a BNCC busca assegurar aos estudantes o desenvolvimento de 10 competências gerais visando “afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza” (BRASIL,2013).
A necessidade de se pensar o currículo a partir das competências gerais e das competências específicas de cada componente curricular está articulada à concepção de educação integral. A ideia de educação integral não se confunde com a ideia de período integral. Não se trata de quanto tempo o aluno permanece na escola, mas se trata de uma visão de educação que intenciona o desenvolvimento global das crianças, dos adolescentes e dos jovens.
É desta maneira que os currículos devem ser pensados e elaborados com a intencionalidade de promover processos educativos comprometidos com as reais necessidades e possibilidades de aprendizagens das crianças e dos jovens de cada escola, articulando esses desafios pedagógicos às grandes questões da sociedade contemporânea. Isso requer um diálogo entre a escola, os seus alunos e o seu território.
O diálogo com o território exige refletir não apenas sobre as carências ou ausências de ação do poder público localmente, mas também propõe pensar as potencialidades do território onde a escola se encontra. Não existe pensar educação descolada de seu território, afinal a escola é uma instituição que se localiza espacialmente, por isso ela precisa dialogar com a sua comunidade e o seu entorno.
Assim, os currículos precisam dialogar com os sujeitos, as instituições, as práticas culturais, as carências e as potencialidades do local onde a escola se encontra. Desta maneira, o território torna-se um espaço educativo e a escola uma instituição cujo papel social se amplia para além das salas de aula, construindo projetos que mobilizam a intencionalidade de criar, formar, pensar, refletir e propor ações sobre o território onde se está. Existe a articulação de saberes formais e não formais construindo uma verdadeira rede de participação que envolve alunos, professores e famílias, ou seja, toda a comunidade escolar.
Vale ressaltar que a concepção adotada de território é aquela que pensa o território não apenas como algo passivo, que recebe a ação humana, mas sim como algo que além de receber a ação humana também interfere nessas ações a partir de seus elementos, pois cada território é portador de uma história, de um conjunto de elementos sociais, culturais e ambientais, como nos ensina o geógrafo Milton Santos.
Para Milton Santos, o território não é apenas uma materialidade, ele se define pelo uso, pois são espaços humanizados, espaços habitados e produzidos pelas pessoas em sociedade e por isso possuem historicidade, nos revelando a força das ações locais, bem como a força dos processos de globalização. Assim, o território não é apenas um contingente passivo das ações humanas, mas é entendido como conteúdo e sujeito das experiências educativas e por isso ganha um potencial educativo.
A partir desta concepção, a escola se torna um importante agente ativo para pensar projetos de desenvolvimento do território propondo ações e intervenções juntamente com outras instituições que pensam e constroem este território.
Estratégias pedagógicas
É importante considerar que todo o espaço escolar tem natural potencial educativo e amplia a visão do aluno. Nesse sentido, o pátio, a biblioteca, a sala de leitura, os espaços destinados à horta, a quadra, a sala de aula, os espaços acessíveis no entorno da escola como o rio, a praça, as trilhas ecológicas, as propriedades rurais, as hortas de produtores familiares, são, em si, potenciais educativos propícios à aprendizagem em todas as dimensões da pessoa.
Realizar uma saída da sala de aula para o pátio da escola para fazer uma leitura ou uma atividade embaixo da árvore ou, ainda, uma saída a campo mais estruturada para observar o Rio Paraitinga e seus diferentes usos da paisagem são profundamente importantes.
Na educação infantil e no início do ensino fundamental é importante enfatizar a sensibilização ambiental através de vivências, especialmente em espaços ao ar livre e verdes, para desenvolver a percepção do corpo, suas interações, o cuidado e respeito entre as crianças e seu entorno, destacando a diversidade dessas relações.
Nos anos finais do ensino fundamental convém desenvolver o raciocínio crítico, prospectivo e interpretativo das questões socioambientais, bem como a corresponsabilidade ambiental a partir de suas atitudes que interferem na realidade.
No ensino médio e na educação de jovens e adultos o pensamento crítico, contextualizado e político e a corresponsabilidade ambiental devem ser ainda mais aprofundados.
Em todas as fases de ensino e nas diferentes disciplinas é importante associar estratégias de ensino mais ativas e menos ativas. Elas podem ser combinadas e mobilizadas de diversas formas para desenvolver competências e habilidades em um processo de aprendizagem de longo prazo.
Estratégia mais ativa
Estratégia menos ativa
Observação
Memorização
Formulação e investigação de hipóteses
Reprodução de informações
Resolução de problemas por enfoque de compreensão profunda
Resolução de problemas como ilustração de conteúdo memorizado
Investigação prática (métodos de experimentação “mão na massa” e de trabalho de campo)
Reprodução de protocolos e tutoriais fechados
Tentativa e erro
Imitação de método
Comparação de diferentes estratégias
Repetição de uma mesma estratégia
Construção de responsabilidade de trabalho em grupos (colaboração, debate, cocriação)
Foco individual. Não Construção de
responsabilidades coletivas
Registro processual (tornar a aprendizagem visível para si e para o outro)
Não realização de registro de processo
(aprendizagem fica invisível no processo)
Estudo teórico (enfoque de construir para si compreensão profunda)
Exposição teórica (enfoque de receber
transmissão de informações teóricas de alguém)
Desenvolvimento de performances perante outros (encenar, explicar, demonstrar etc.)
Estudo sozinho
Criação de critérios coletivos de avaliação
Recebimento de critérios de avaliação prontos
FONTE: Currículo e educação integral na prática: uma referência para estados e municípios, baseado em ANDRADE, SARTORI, 2018, p.180.
Estudo do Meio
Em 2014, a Secretaria de Educação de São Luiz do Paraitinga promoveu uma formação de professores para criar um projeto interdisciplinar de estudo do meio que considerasse a importância histórica e cultural do município. O tema norteador do estudo foi “Identidade”. Os(As) professores(as) que participaram dessa iniciativa implementaram e deram continuidade ao estudo do meio nas escolas em que atuam ao longo dos últimos anos.
Esses(as) mesmos(as) professores(as) que contribuíram na concepção do projeto Roda D´Água enfatizaram a importância de fortalecer o estudo do meio como metodologia ativa para desenvolver a sensibilização e a educação ambiental nas escolas com foco na Bacia Hidrográfica do Rio Paraitinga, com o objetivo de ampliar o olhar sobre o território e integrar temáticas sociais, ambientais e econômicas.
O Estudo do Meio é uma metodologia de produção de conhecimento que oferece aos alunos e alunas a oportunidade de aprender, de forma significativa, conteúdos que dizem respeito às suas vidas, além de contribuir para que aprendam temas e assuntos sobre o lugar e o mundo em que vivem. Para realizar o estudo do meio é preciso cumprir basicamente três etapas:
1° etapa - refere-se à preparação dos alunos antes do trabalho de campo. Nesta etapa, os alunos devem compreender quais os objetivos do projeto, quais os objetivos de cada atividade a ser realizada em campo e também devem ser preparados para entender como devem realizar cada atividade.
2° etapa - diz respeito ao trabalho de campo propriamente dito. Nesta etapa cada aluno deve estar preparado e consciente da intencionalidade de cada uma das atividades propostas. Assim, terão condições de realizar as atividades com autonomia e criatividade.
3° etapa - diz respeito à sistematização e elaboração sobre o material coletado em campo. Nesta etapa os alunos também precisam ter clareza do que se espera deles para que realizem as sínteses e as análises necessárias sobre o material recolhido em campo.
Potenciais Educativos
Mapear potenciais educativos no território da Bacia do Rio Paraitinga é uma ação dinâmica e pode ser atualizada constantemente. O Rio Paraitinga e seus principais afluentes em São Luiz do Paraitinga - o Ribeirão do Turvo e o Ribeirão do Chapéu - tornam-se potenciais educativos capazes de gerar aprendizagem, pois são espaços dotados de significado, de identidade, valor afetivo, possíveis de atribuir sentido e reconhecimento social e comunitário.
Como cada escola está localizada em uma região específica do município e situada nas proximidades dos cursos d´água, é possível levantar diferentes locais nas suas cercanias para potencializar temáticas interdisciplinares que a escola queira desenvolver.
A EMEF Cassiana dos Santos Moreira, por exemplo, aponta como potencial educativo em seu Projeto Político Pedagógico o Ribeirão do Chapéu e propõe o estudo do meio de sua nascente à foz. Já a EMEF Prof. Waldemar Rodrigues realiza há alguns anos o estudo do meio no trajeto para o Mirante da Torre, ou o Morro da Cueca, ponto mais alto da cidade de São Luiz, onde é possível entender, por exemplo, a ocupação da cidade ao longo do Rio Paraitinga.
Criar chances para o(a) aluno(a) da escola Waldemar Rodrigues realizarem o estudo do meio no Rio do Chapéu e os alunos(as) da escola de Catuçaba realizarem o estudo do meio no Mirante do Morro da Cueca pode inaugurar um intercâmbio riquíssimo entre alunos, professores e escolas, além de ampliar e fortalecer o estudo do meio como metodologia ativa no território de São Luiz do Paraitinga.
Projetos pedagógicos como estes são suficientes para promover encontros para trocas de experiência entre professores(as) e gestores(as), seja em espaços de horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) em cada escola, seja em espaços de formação anual. O Roda D´Água fomenta que projetos interdisciplinares de estudo do meio sobre o território da Bacia do Rio Paraitinga representem a temática ambiental nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas do município e que cada projeto considere potenciais educativos locais e específicos à realidade de sua escola.
Exemplos de potenciais educativos
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O Rio Paraitinga (perímetro urbano de São Luiz)
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Ribeirão do Chapéu (Distrito de Catuçaba)
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Ribeirão Turvo (trechos no Bairro do Alvarengas e São Sebastião)
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Ribeirão do Pinga (Distrito de Catuçaba)
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Fazendas Históricas (Distrito de Catuçaba)
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Trilha Ecopedagógica (Bairro Alvarengas)
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Antiga Usina Hidrelétrica (Distrito de Catuçaba)
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A volta da cachoeira (perímetro urbano de São Luiz)
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Mirante do Morro da Cueca (perímetro urbano de São Luiz)
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Alto do Cruzeiro (perímetro urbano de São Luiz)
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Parque Estadual da Serra do Mar - Núcleo de Santa Virgínea (Unidade de Conservação)
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Museu Casa Oswaldo Cruz (perímetro urbano de São Luiz)
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Propriedade de produção Biodinâmica da Maria Helena (Na rua da escola Waldemar Rodrigues)
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Propriedades de pequenos agricultores familiares (bairros rurais e centro urbano)
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Propriedades de pequenos produtores agropecuários (bairros rurais)
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Hortas urbanas (Casinha Branca, Casinhas Populares do Benfica e acima da SABESP, centro)
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Estações de tratamento de água e elevatórias da SABESP (perímetro urbano de São Luiz)
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Postos de reciclagem (perímetro urbano de São Luiz)
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Aterro Sanitário (Bairro do Alvarengas)
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Campo de futebol no Benfica (perímetro urbano de São Luiz)
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Parque Linear (perímetro urbano de São Luiz)
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Casa de Farinha (centro)