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Sensibilização ambiental no ensino infantil 

A EMEIEF Profa. Maria Vitória de Campos Azevedo está localizada do Distrito de Catuçaba, na região de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia, área de proteção ambiental da Mata Atlântica, na Bacia do Ribeirão do Chapéu. A escola é rodeada de área verde e as crianças se deparam, constantemente, com diferentes espécies de animais. 

 

Ao perceber a curiosidade das crianças e o potencial de aprendizagem no entorno da escola, o professor Rodolfo Gedeon criou um projeto de observação e interação com a fauna de invertebrados da Mata Atlântica, especialmente insetos, aracnídeos e anelídeos. Ao mesmo tempo em que desenvolvem competências e habilidades, as crianças conhecem, reconhecem e valorizam a própria realidade. 

 

Ao realizar caminhadas no entorno da escola, as crianças são incentivadas a formular perguntas, manipular e reconhecer as diferenças e semelhanças entre os invertebrados que encontram, fazerem coleta de exemplares para observação e a ficarem atentos aos perigos da mata. São estimulados ao autocuidado, ao cuidado com os colegas e com os animais, além de serem orientados a realizar trabalhos em grupo através da colaboração e do afeto. 

 

Em sala de aula, o trabalho se desdobra. Os exemplares que coletaram são expostos em um painel de amostras. Realizam pesquisa em revistas e jornais para encontrar, recortar e montar um painel sobre animais invertebrados. Assistem a filmes, escutam músicas e realizam brincadeiras sobre a temática. São estimulados a reconhecer letras e a escrever palavras, a fazer brincadeiras e danças que imitem os sons e o comportamento dos animais. Ouvem histórias, fazem rodas de conversas. Para culminar o projeto, o professor orienta a elaboração e a criação de enredos e personagens para realizar uma peça de teatro, na qual os alunos atuam e participam da criação colaborativa para a produção do figurino e do cenário.

 

Este caminho pedagógico também é utilizado para a observação de pássaros com o uso de binóculos. Ao saírem ao redor da escola, as crianças observam diferentes espécies de pássaros, suas cores, formas e cantos, conversam sobre o que comem e seu modo de reprodução. Em forma de brincadeira, imitam com o corpo seus movimentos e com a voz reproduzem seus cantos. Em sala de aula, realizam pesquisas em diferentes plataformas, como livros e internet, e desenham, escrevem letras e palavras, ouvem e contam histórias sobre os passarinhos. 

Sensibilização ambiental no ensino infantil 
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A sensibilização ambiental no processo de ensino e aprendizagem das crianças da escola Profa. Maria Vitória se tornou um caminho repleto de possibilidades. Diversas ações são realizadas neste sentido e são exemplos inspiradores: 

 

  • O plantio de mudas de juçara para estudar sobre seu habitat, identificar os bichos que comem, entender sua importância para a floresta e seu valor nutricional; 

 

  • O reconhecimento de PANCs (plantas alimentícias não convencionais), seus benefícios para a saúde (alimento e remédio), o plantio de mudas na horta para o acompanhamento de seu crescimento e consumo na merenda escolar;

 

  • Aulas de yoga, uma prática milenar que associa a saúde do corpo físico, mental e emocional e propicia o encontro com a própria natureza através da respiração, concentração, gestos, movimentos e posturas.

 

Este último trabalho, desenvolvido pelo professor Gedeon, foi reconhecido e premiado pela Fundação FLUPP. O yoga foi introduzido como uma brincadeira aliado às músicas e contação de histórias. O professor prepara o ambiente com colchonetes para as crianças sentarem-se ao chão, na pose de borboleta, e coloca uma música clássica para se habituarem a esse estilo e perceberem o clima e o ritmo que se dará a aula. 

 

As crianças são orientadas a aliar sua respiração com os movimentos e os sons de seus corpos. Ao ouvir uma história proposta pelo professor, as crianças são orientadas a fazer diferentes posições e, por meio delas, desenvolvem a consciência corporal, o relaxamento, a autoconfiança, a tranquilidade e o equilíbrio. Desenvolver o autocuidado é primeiro passo para aprender a cuidar do que está à nossa volta.

 

Todos os projetos desenvolvidos na escola envolvem parcerias entre comunidade escolar: professores, pais e mães, funcionários e gestores. O que traz mais brilho e envolvimento para as suas ações.

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Da nascente à foz

A EMEIEF Profa. Maria Vitória de Campos Azevedo desenvolve há alguns anos o Projeto Ribeirão do Chapéu e Ribeirão do Pinga, que está em seu Projeto Político Pedagógico e tem como fio condutor o estudo interdisciplinar da Bacia Hidrográfica do Rio do Chapéu e seus afluentes. 

 

Catuçaba tem uma importância histórica no desenvolvimento e identidade cultural da região, mas é considerada uma área de alto risco de desastres socioambientais pelos órgãos de monitoramento geossistêmicos do Estado por estar sujeita a frequentes enchentes e inundações ao longo dos anos. 

 

Em novembro de 2019, os professores Bruno Galhardo e Rodolfo Gedeon realizaram uma Expedição Geográfica com os alunos dos 6° e 7° anos intitulada “Nascente à Foz – Usos e Abusos do Rio do Chapéu”, que percorreu desde a cabeceira do Chapéu, na divisa de Lagoinha e Cunha, até a sua foz no Rio Paraitinga. 

 

Fizeram uso de uma apostila produzida através da pesquisa do professor Rodolfo sobre a região. Dois objetivos foram elencados para desenvolver o trabalho em sala de aula e reforçados durante o trabalho de campo: compreender a dinâmica ecológica e socioespacial da Bacia Hidrográfica no contexto das mudanças climáticas; e identificar na paisagem as diferentes ocupações do espaço e os seus impactos ambientais. 

 

Com auxílio do transporte, as turmas saíram a campo e foram orientadas pelos professores a praticar habilidades específicas da Geografia: analisar a paisagem e identificar suas transformações, analisar a declividade e entender a formação do relevo, compreender os conceitos de hidrografia, bacia hidrográfica, uso e ocupação do espaço; observar os diversos usos do território (tipos de habitação, cultivos, produção); discutir acerca da qualidade da água e do tratamento de esgoto na área rural e na vila de Catuçaba e reconhecer o processo histórico de formação local por meio da observação das rugosidades presentes no território. 

 

As paradas realizadas durante a expedição foram:

  1. Alto do Chapéu (a 1.600 metros de altitude),

  2. Fazenda do Chapéu,

  3. Vila de Catuçaba,

  4. Estação de Tratamento de Esgoto da SABESP,

  5. Fazenda Pinheirinho,

  6. Usina Hidrelétrica de São Luiz do Paraitinga (datada de 1923).

 

Os alunos observaram a paisagem, fizeram uso de conhecimentos prévios, identificaram referências geográficas e divisas territoriais, realizaram perguntas sobre o relevo, vegetação e usos do espaço, fizeram registros escritos, fotográficos e audiovisuais, contaram histórias vivenciadas em lugares em que a expedição passou e identificaram referências de ocupação do espaço – como a primeira ponte construída, as primeiras casas da região, as áreas de pastagem, as áreas florestadas etc. 

 

A partir dos registros e trocas de experiências, os alunos criaram textos e desenhos que se tornaram material de aprendizado e avaliação.

Da nascente à foz
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Arte e natureza

Há oito anos, a professora Karla Ferreira dá aulas de Arte para turmas do maternal ao 9° ano na EMEIEF Professora Maria Vitória de Campos Azevedo. Nas ações, que realiza com crianças de 2 anos e meio a 14 anos, associa as diferentes linguagens da arte – especialmente as artes plásticas – à cultura local e, a partir do reconhecimento e coleta de elementos da natureza, desenvolve a sensibilização ambiental de seus alunos. Para tanto, trabalha com desenhos no chão que soltam a imaginação; histórias de origem como as dos dinossauros, sobre os fósseis e sobre os desenhos rupestres da Serra da Capivara (PI); pincéis de folhas, tintas de diferentes pigmentos da natureza; perspectivas em desenhos e fotografias; brincadeiras ao ar livre com pipas confeccionadas por quem brinca; uso de galhos, folhas e flores para estimular a criatividade para montar, colar, desenhar e escrever; além do uso de materiais de reciclagem para criar brinquedos e brincadeiras. São temas curiosos, diversos, divertidos que aguçam a liberdade de expressão de crianças e jovens através de atividades inspiradoras e que criam vínculos afetivos entre sujeitos, espaços e relações. 

Arte e natureza
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Caderno Verde, lixo e compostagem

A EMEF João Pereira Lopes tem um trabalho precursor em educação e sensibilização ambiental no município de São Luiz do Paraitinga, protagonizado pela professora Silvana Rodrigues. Sua experiência ganhou corpo ao longo dos anos e hoje envolve toda a comunidade escolar em atividades e estudos sobre as questões socioambientais locais.

 

Tudo começou em 2003, quando a escola foi criada. Um grupo de professores da rede municipal de São Luiz recebeu uma proposta da equipe de educação ambiental do Núcleo Santa Virgínia, para que cada escola levantasse uma questão ambiental pertinente a sua localidade e criasse um projeto para lidar de forma positiva com o tema proposto. A escola João Pereira Lopes optou por trabalhar a temática do lixo junto à comunidade escolar, pois naquela época era comum jogar lixo no chão, no rio e fazer queima de resíduos sólidos. Outras escolas escolheram plantar árvores, restaurar áreas degradadas, entre outras ações.

 

Para desenvolver a temática, Silvana criou o Caderno Verde para a sua turma de 1° ano. Cada aluno realizava ali atividades relacionadas a temática do lixo em diálogo com as disciplinas trabalhadas em sala de aula: Português/Literatura, Matemática, História, Geografia, Ciências, Educação Física e Artes. As atividades eram desenvolvidas pela professora em mimeógrafo e coladas nos caderno de cada aluno. Ali se reuniam pequenos textos para leitura, perguntas, atividades práticas de coleta e contagem de resíduos sólidos em casa ou na escola, atividades para a construção de gráficos, informações históricas etc. 

Neste contexto, os alunos realizaram uma pesquisa com suas famílias sobre as pilhas utilizadas em casa, especialmente para escutar rádio que, na época, era a principal fonte de informação na região. Os alunos levantaram que era comum suas famílias queimarem as pilhas no fogão a lenha na hora de fazer as refeições e, através da pesquisa e suas orientações, a comunidade deixou de queimar as pilhas e correr o risco de entrar em contato com suas substâncias tóxicas.

 

Outra proposta de uma extensa sequência didática foi levar todas as crianças da escola para um piquenique. A ideia foi promover uma caminhada nos arredores da escola, escolher um lugar para lanchar e realizar diversas brincadeiras. Ao deixarem o local, depois da diversão, a professora chamou a atenção dos alunos e não precisou dizer nada: quando olharam para trás, perceberam o resultado da passagem do grupo por ali. Alguns alunos haviam procurado onde jogar o seu lixo e, como não encontraram, deixaram-no por ali mesmo. Silvana conta que, a partir daquele momento, o grupo ganhou consciência de que as atitudes individuais e coletivas interferem no ambiente. 

 

Quando seus alunos foram para o Ensino Fundamental II, ela continuou a trabalhar com a turminha e o Caderno Verde foi completo até o 9° ano. Silvana relata a riqueza dos registros realizados pelos alunos, pois através deste material foi possível perceber o desenvolvimento do trabalho e da aprendizagem das crianças ao longo dos anos, já que as questões foram aprofundadas a cada ano. O Caderno Verde se tornou um importante instrumento de trabalho, registro e avaliação.

 

Como haviam poucas informações sobre o tema na época, o trabalho foi muito proveitoso. Os alunos passaram a conhecer os tipos de lixo, a coleta seletiva, a reciclagem, a relação com o consumo e com o descarte, o desperdício, entre outros temas. Hoje em dia, o acesso à informação é mais democrático que tempos atrás e Silvana acredita que o maior desafio da educação e da sensibilização ambiental é a mudança de atitude: o modo de consumir, de descartar os resíduos sólidos, o respeito à preservação e conservação dos recursos naturais, o trabalho cooperativo etc.

A reciclagem e a produção de papel artesanal junto aos alunos da escola também foi um ponto forte durante o processo de trabalho sobre a temática do lixo. Os alunos realizaram uma pesquisa sobre a produção de resíduos sólidos na escola e chegaram à conclusão de que o papel, utilizado diariamente nas atividades pedagógicas, era o mais usado e desperdiçado. Com o auxílio da professora e com o uso materiais específicos como telas, baldes e bandejas, produziram papéis reciclados de variados tipos e aprenderam a confeccionar caixinhas de papel para presentear no Dia das Mães.

 

Com o auxílio de parceiras externas, alunos e professora construíram um galpão de bambu gigante e uma parede de pau a pique atrás da escola. Sonhou-se, naquela época, montar neste galpão uma cooperativa de reciclagem de papel que envolvesse toda a comunidade escolar, com o objetivo de gerar renda para as famílias dos alunos. A ideia não vingou e hoje esse galpão está sendo revitalizado pelo projeto Nosso Paraitinga Roda D´Água com o objetivo de criar um espaço pedagógico para promover o ensino das crianças em um ambiente diferenciado.

 

Com a parceria da gestão, dos professores, das crianças e da equipe de merendeira da escola, o lixo orgânico da cozinha e da merenda passou a ser separado em um balde, onde se jogam cascas de frutas, restos de vegetais e legumes crus, que são levados para a composteira atrás da cozinha.

 

A composteira passou a ser tema de estudo e o composto produzido é utilizado na horta para o plantio de alimentos. A escola faz uma campanha pelo não desperdício de comida durante as refeições e orienta a não jogar resto de comida na composteira para não haver acúmulo de bichos.

 

Essa iniciativa acontece até hoje e é sempre preciso reforçar a comunicação sobre a importância desta atitude em cada sala e a cada ano. Todas as ações que envolvem a comunidade escolar são fortalecidas e transformadas em sequências didáticas pelos professores durante cada ano.

Caderno Verde, lixo e compostagem
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Semana da Água

A EMEF João Pereira Lopes também realiza todos os anos a Semana da Água, uma ação interdisciplinar com diversas intervenções desenvolvidas por professores e alunos. Os alunos pesquisam de onde vem a água da escola, vão conhecer, junto a seus familiares, as nascentes de água ou os poços que abastecem as suas casas e produzem registros através da escrita, desenhos e audiovisual sobre a importância desse recurso natural. 

 

São realizadas ainda apresentações culturais no Sarau Ecológico, onde os alunos cantam, declamam poesias e produzem, junto aos professores, peças de teatro sobre a temática da água. Constroem maquetes sobre nascentes, com referências de lugares preservados e não preservados pelas matas ciliares para entender a importância da vegetação. Já construíram uma grande maquete com o exemplo de uma cidade sustentável, receberam explicações sobre o que é curva de nível, realizaram experiências como a caixa multiplicadora de água, terrário, sobre o ciclo da chuva, os estados físicos da água, a representação da água no mundo, entre outras ricas abordagens. 

 

Todas as atividades possuem viés pedagógico e foram realizadas através de brincadeiras e gincanas para formar a consciência ambiental de crianças e jovens a partir da mobilização e da alegria. 

Semana da Água
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