Ribeirão do Turvo
O Ribeirão do Turvo tem sua nascente e sua foz no município de São Luiz do Paraitinga, assim como o Ribeirão do Chapéu. Percorre 25 quilômetros até o Bairro do Rio Abaixo, quando deságua no Rio Paraitinga, especificamente no Raizeiro, localizado no Bairro do São Sebastião, e corta inúmeras propriedades com diferentes atividades econômicas.
Ocupação, monjolo e roda d´água
Há mais de 200 anos se falava sobre a importância do Ribeirão do Turvo nessa região. Um corpo d´água que, assim como o Ribeirão do Chapéu, orientou a ocupação de São Luiz do Paraitinga e que teve sua paisagem modificada ao longo do tempo pelas diferentes fases econômicas que atravessaram o município.
Antes disso, viviam ali alguns posseiros itinerantes. Construíam habitações de pau a pique e telhado de sapê, produziam pequenas roças de mandioca, milho e feijão, complementavam sua alimentação com a caça, pesca e coleta e, quando achavam pertinente, mudavam sua casa e roça de lugar.
Os primeiros povoadores da Vila de São Luiz do Paraytinga foram beneficiados com doações de sesmarias nesta região, como ato oficial do governo para legitimar a ocupação do território. Cabe ressaltar a importância dos corpos d´água no processo de ocupação do território. A água é um recurso natural imprescindível para a permanência de um povoado. A história tem diversos exemplos nesse sentido: o Rio Ganges na Índia, o Sena na França, a própria cidade de São Luiz foi ocupada à beira do Rio Paraitinga, a cidade de São Paulo cresceu e se urbanizou a partir das margens dos rios Tietê e Pinheiros.
Por conta da importância do Ribeirão do Turvo, a região por onde ele passa foi nomeada de Bairro do Turvo e todas as propriedades que tinham suas terras banhadas por esse Ribeirão, da nascente à foz, eram consideradas pertencentes ao Bairro do Turvo. Com a intensificação da permanência de sitiantes na região, foram surgindo novos bairros dentro do Bairro do Turvo, como o Alvarengas e Cachoeira dos Pintos. Onde hoje é a Cachoeira dos Pintos, era chamado de Bairro da Cachoeira do Turvo. Pintos era o sobrenome de uma família que viveu muito tempo por lá. Há registros, no início do século XIX, de um grande proprietário do Bairro do Turvo chamado José Faustino Alvarenga, um senhor de engenho de açúcar possuidor de muitos escravos. Seu sobrenome deu nome ao Bairro do Alvarengas, onde hoje está localizada a EMEF Cassiana dos Santos Moreira.
O historiador Marcelo Toledo conta que, no final da década de 1930, o Padre Gomes adquiriu uma grande propriedade com mais de 300 alqueires na região. Quando descrita por um engenheiro agrimensor, muitas qualidades foram destacadas: água de excelente qualidade, fauna rica e variada, madeiras nobres. Padre Gomes não tinha uma perspectiva de exploração sobre a terra, mas de preservação. Mas, na década de 1940, Padre Gomes vendeu a fazenda para Félix Guisard, grande empresário da região, protagonista do processo de industrialização do Vale do Paraíba e fundador da Companhia Taubaté Industrial (CTI). Guisard utilizou grande parte da madeira de sua nova propriedade na Bacia do Turvo para gerar energia de combustão utilizada na produção de peças de algodão em sua fábrica em Taubaté.
Já na década de 1970, um fazendeiro chamado Nagib, comprou uma grande área na região do Turvo e investiu na pecuária leiteira, o que gerou empregos para a comunidade que ali vivia. Mas, no final da mesma década, ele vendeu a fazenda para uma empresa de celulose.
Muitas famílias construíram suas moradas e abriram roças ao longo do trajeto do Ribeirão do Turvo para facilitar a vida através da captação de água. Houve um período em que o volume d´água era tão grande que rodas d´água e monjolos de martelo foram instalados ao longo de seu curso para aproveitar a riqueza hídrica para a produção de alimentos. O volume de água era muito maior que atualmente, e com a força d´água os produtores da região fabricavam farinha de milho, fubá e farinha de mandioca que, até a década de 1950, eram comercializados e transportados em tropas de burro para os mercados de São Luiz, Taubaté e Guaratinguetá.
Os monjolos de maior produção pertenciam a Zinho Tereza e João da Cruz Moreira, no Bairro do Alvarengas, e a Dito Santo, abaixo da Cachoeira dos Pintos. O pessoal mais antigo, como Seu Pedro Galvão Moreira, que viveu a vida toda na região do Alvarengas, conta que, quando criança, entre 6 e 7 anos, o pai já colocava as crianças para trabalhar na produção de farinha de mandioca e ensinava sua forma de produção através dos monjolos. Uma parte dessa produção de alimento era apartada para a Festa do Divino. O Ribeirão do Turvo era caudaloso, com poços fundos, bom para banhar, e tinha grande variedade de peixes. Este ribeirão foi declarado como Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da região por meio de uma lei municipal, assim como foi instituída a Semana de Luta e Defesa do Ribeirão do Pinga e do Chapéu com o objetivo de ampliar o comprometimento e participação da comunidade luizense na melhoria socioambiental da região através de parcerias entre poderes públicos e sociedade civil.
Impactos ambientais
Os impactos ambientais sofridos na Bacia do Ribeirão do Turvo não diferem dos que ocorrem no Ribeirão do Chapéu, mas poucas iniciativas foram realizadas para sua recuperação ambiental. A escola EMEF Cassiana dos Santos Moreira vem fazendo um trabalho muito importante para a conscientização ambiental da comunidade escolar do Bairro do Alvarengas. Estas iniciativas estarão descritas adiante, na seção “Experiências Pedagógicas”.