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Dia do Ribeirão do Turvo

Por estar inserida na região da Bacia do Ribeirão do Turvo, a EMEF Cassiana dos Santos Moreira tem realizado nos últimos anos comemorações junto aos alunos em prol do Ribeirão do Turvo, aproveitando o fato de que um de seus afluentes passa ao lado da área escolar. 

O professor Vicente Paulo de Campos contou que nessas ocasiões a escola promove campanhas envolvendo a comunidade escolar para a doação de mudas de árvores para os alunos plantarem nas margens do ribeirão ou próximo à escola. Essa atividade se estendia também durante as reuniões de pais, que também eram incentivados a fazer o plantio dessas mudas na escola. 

Todos os anos a escola realiza um manifesto cultural com foco ambiental, que tem o objetivo de levantar questões socioambientais locais e juntar artistas locais, tocadores de viola, cantores, artesãos, bordadeiras e cozinheiros para animar a festa e levantar fundos para a escola. Durante o evento, as mudas também são distribuídas. 

Em 2007, o professor Paulo montou uma exposição de fotografias, com fotos de sua autoria, para valorizar as belezas naturais do entorno da escola e seu modo de vida: paisagens rurais, fauna, flora, suas águas e sua gente. O retorno da comunidade escolar foi muito positivo ao identificar e reconhecer sua realidade através da arte. Foi aí que ele se deu conta de que a comunidade está tão inserida na realidade rural que acaba por não perceber as belezas e lugares que a cercam, algo que passa despercebido no seu cotidiano. 

Assim nasceram as comemorações para a preservação do Ribeirão do Turvo, que desde então acontecem durante a semana do dia 27 de setembro. As atividades pedagógicas a partir dessa temática fizeram tanto sucesso que nasceu uma letra de rap para incentivar crianças e jovens a levantarem a bandeira do cuidado e da preservação.

Dia do Ribeirão do Turvo
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TURVÔ

Passa de mansinho

No fundo da Escola

Tem gente que não vê

Não liga e não dá bola

 

Tá na hora de mudar

Rever a situação

Ti bum chuá no rio

Quero dar um mergulhão

 

O Turvo é meu, é seu 

Queremos preservar

Vamos fazer de novo

Um rio pra eu nadar

 

Ele é meu, é seu

Ele também é nosso

Merece salvação

Você pode, eu também posso

 

Vamos salvar o Turvo (Siiimm)

Sua mata ciliar (Siiimm)

Escutar os passarinhos (Siiimm)

E nele poder pescar

 

Chuá, chuá, chuá!!!

Tem som de cachoeira

É água que vem de cima 

É o rio, é corredeira

 

Na curva do Rio

Na beira da estrada

Passa água de mansinho

Mas já tá assoreada 

 

Vamos verbalizar

Eu, tu e você

Limpando esse rio

Não deixando ele morrer

 

Autor da letra: Prof. Paulo Ramalho 

Música: Prof. Alexandre Moraes

Homenagem ao Rio Turvo em comemoração ao seu dia 27 de setembro

Trilha Ecopedagógica

Por estar sediada na Bacia do Ribeirão do Turvo, a equipe da EMEF Cassiana dos Santos Moreira decidiu incentivar as crianças a prestarem atenção no quanto o verde fazia sentido para a comunidade escolar. Decidiram então plantar mudas de juçara junto com as crianças do infantil no terreno da escola que beira o ribeirão, especialmente em sua mata ciliar, com o objetivo de que elas percebessem o crescimento das mudas junto ao seu desenvolvimento escolar, até completarem o ensino fundamental. 

 

Esse espaço foi nomeado de Trilha Ecopedagógica, onde os alunos podem realizar rodas de conversa, caminhar com acesso à mata ciliar em recuperação, identificar uma série de espécies vegetais e animais, além do acesso à água. É possível desenvolver propostas pedagógicas envolvendo qualquer disciplina. A trilha tem mais ou menos 400 metros no entorno da escola e está sempre disponível para visitação de outras escolas.

 

Ao desenvolverem atividades e ações pedagógicas na trilha, os professores perceberam que aquele espaço é uma inspiração para os alunos aprenderem e dialogarem com suas famílias a respeito da importância da água, da necessidade de cercarem suas nascentes, da importância de preservar e plantar árvores para a produção de alimentos e de sombra para os humanos e animais de criação. Como resultado dessas iniciativas, criaram uma poesia falando sobre a importância do Ribeirão do Turvo em toda sua extensão. Desenvolveram também trabalhos em torno da questão do fogo, da importância de se fazer aceiros, e muitas famílias protegeram suas matas dessa forma. 

 

Segundo Paulo, a consciência ambiental da comunidade escolar aumentou quando faltou água na escola e no bairro por um longo período de seca, em 2014. A solução foi pegar água no Ribeirão que beira a escola, o que reafirmou a responsabilidade escolar em fortalecer junto às crianças, jovens e comunidade a ideia e a prática de preservar o Ribeirão do Turvo ao longo de sua extensão. Proteger as nascentes na zona rural faz muito sentido e com a crise hídrica toda a comunidade escolar se deu conta dessa necessidade. 

 

Sobre a importância da sensibilização e educação ambiental nas escolas e a inclusão de projetos com temáticas ambientais específicas a suas localidades, Paulo diz: 

 

“Temos visto que a questão ambiental está literalmente aflorada entre professores e alunos de todas as escolas do município e isso deixa a gente muito contente. Essa busca tem que ser constante, mesmo com alguns percalços e contratempos no caminho. A educação ambiental precisa ser levada com afinco e o melhor lugar para se disseminar boas ideias de preservação durante o ano inteiro é escola.”

Trilha Ecopedagógica
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Nascente pedagógica

Há 15 anos, foi realizada uma restauração florestal promovida entre professores e alunos da EMEF João Gonçalves dos Santos, no Bairro São Sebastião, que se tornou referência no município e tem desdobramentos até hoje. Em conversa sobre seu desejo de fazer uma ação de plantio com as crianças da escola, o professor Paulo Vicente soube, por intermédio do engenheiro Tupã Mikilin (in memorian) que a SABESP precisava realizar a compensação ambiental em alguma área do município e que a nascente localizada no grotão acima da escola, pertencente à propriedade de seu Zé Dias, seria ideal. A mina d´água em questão estava localizada no pasto e abastecia o posto de saúde, a horta da escola e algumas casas. Seu Zé Dias, que doou parte de sua propriedade para a construção da escola, se mostrou bastante animado com a perspectiva de recuperar a mata ciliar de sua nascente para aumentar a quantidade e qualidade de água produzida ali. E se propôs a manter o cuidado da nascente após a ação de plantio pelas crianças. Essa ação, portanto, aconteceu em parceria entre a prefeitura de São Luiz, SABESP e a EMEF João Gonçalves dos Santos.

 

Para sua realização, foi desenvolvido um trabalho prévio com as crianças sobre a necessidade de proteger ambientalmente a região do entorno da escola, sobre a importância da água e sua relação com o aumento da biodiversidade local a partir do incremento de espécies de árvores e, consequentemente, da fauna e da flora. Os professores perceberam a possibilidade de trabalhar essa ação de forma interdisciplinar e abordaram a história de ocupação do bairro, informações sobre a vegetação e a pastagem. 

 

O ato de subir até a grota e plantar aquelas mudas foi uma aventura marcante na vida do grupo. Fizeram o registro sobre o espaçamento entre as árvores plantadas, realizaram o acompanhamento de seu crescimento a cada 15 dias através da medição das espécies plantadas, avaliaram o desenvolvimento de cada uma delas, registraram quais espécies eram propícias para o local, quais se adaptavam em terreno encharcado e quais morriam por gostar de local mais seco. Chegaram à conclusão que o mingá foi a espécie que melhor se adaptou no entorno da nascente e, a partir dessa rica experiência, aprenderam na prática a importância da água na vida das pessoas e de sua comunidade. Hoje, essa turma está na faixa dos 24 anos. Muitos já são pais e mães e todos ainda se orgulham desse trabalho.

 

Atualmente, a grota está reflorestada resistindo a intempéries do tempo, como calor e geadas. Houve significativa recuperação da quantidade e qualidade da água, mas ainda é preciso fazer uma cerca que não permita o pisoteamento do gado naquela área. A restauração dessa nascente é usada até hoje como estudo de caso e estudo do meio por alunos da escola, reconhecida como um exemplo positivo de parceria ao articular diferentes pessoas e interesses para a formação de cidadãos e cidadãs e para a preservação do ambiente.

Nascente pedagógica
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Experiência replicada

Experiência replicada

Ao seguir seu trabalho como gestor na EMEF Cassiana dos Santos Moreira, no Bairro do Alvarengas, o professor Paulo Vicente continuou a conversar sobre a importância de reflorestar e recuperar nascentes com vários proprietários e pais de alunos. Até que conseguiram uma parceria com a Nobrecel, uma empresa que plantava eucalipto no Barreiro, para reflorestar uma nascente no bairro do Alvarengas. 

 

Chegaram a plantar 2.500 árvores com a participação simbólica e pedagógica das crianças da escola. Também incentivaram vários proprietários que arrendavam suas terras para plantações de eucalipto a reconhecer a importância de recuperar e/ou preservar suas nascentes. Paulo lembra de uma aluna que se responsabilizou em ser a guardiã daquela ação, já que morava próxima à área de recuperação e sempre trazia suas observações sobre o desenvolvimento das mudas. Lembra também de um aluno que trouxe para ele uma fruta de uma das árvores que havia plantado. 


A proposta era dar continuidade a essa ação: a escola produzir e doar mudas e insumos para a empresa restaurar e preservar outras nascentes. Mas a parceria não foi adiante. De qualquer forma, a ação incentivou a comunidade do Bairro do Alvarengas a recuperar suas próprias nascentes e aumentar a quantidade de água de suas propriedades. Segundo Paulo, Seu João Preto, morador do bairro, reconhece com gosto o papel da escola e o incentivo dado para que a comunidade protegesse suas nascentes: “Hoje não falta água. Obrigada por demonstrar para a gente a importância da água no nosso terreno". Este não será o real sentido da escola?

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Posto de Reciclagem e Aterro Sanitário

A professora de História Marina Gabos e seu companheiro, o professor de Artes Leandro Barbosa, ambos da Escola Monsenhor Ignácio Gióia, observaram a redução de resíduos sólidos produzidos diariamente onde moram por meio da iniciativa da reciclagem. E resolveram levar essa ideia para a escola. Perceberam, da mesma forma, que grande parte dos resíduos descartados pela Escola Monsenhor poderia ser reciclado, já que a sua maior parte é o papel. 

 

Envolveram na proposta interdisciplinar a professora de Português Alessandra Castro, o professor de Inglês Júlio Domiciano e decidiram desenvolver um trabalho prático de sensibilização e educação ambiental junto aos alunos do ensino médio. O objetivo foi aliar teoria e prática e demonstrar que é possível associar o ensino da sala de aula às saídas a campo e aos estudos do meio para pesquisar sobre a temática proposta. 

 

Depois de conversar sobre a sociedade de consumo e seus desdobramentos em sala de aula, levaram os alunos para visitar o posto de reciclagem do Seu Valdir, que trabalha há mais de dez anos na área. Os alunos gostaram muito da experiência, pois além de ouvirem o Seu Valdir falar sobre o trabalho de reciclagem realizado no posto, eles viram como cada ação é realizada na prática. O posto recebe todo o tipo de resíduos sólidos, os separa por tipo, tritura e forma grande peças que são levadas para Taubaté. Seu Valdir comentou sobre a importância de políticas públicas municipais para a coleta seletiva, pois 80% dos resíduos sólidos que vão para o lixão poderiam ser reciclados, diminuindo assim o seu volume. 

 

Para um estudo comparativo, os professores levaram na sequência os alunos para visitar o aterro sanitário localizado no Bairro do Alvarengas e o impacto nos alunos foi enorme. O aterro estava, naquele momento, em seu limite máximo para o recebimento de resíduos sólidos no município. Hoje, é preciso destinar o lixo municipal para o município de Jambeiro e isso tem custo alto. Ficou evidente para os alunos que a prática da reciclagem reduz os resíduos destinados ao aterro e que a ação individual e coletiva contribui para a transformação da realidade. 

 

Os alunos envolvidos nessa ação realizaram registros escritos, fotográficos e disseminaram sua experiência através das redes sociais. A ideia é continuar a reflexão e possíveis ações de reciclagem por intermédio do Grêmio Estudantil, envolvendo toda a escola. 

 

A novidade é que, em 2021, o posto de reciclagem de Seu Valdir venceu a licitação para uma parceria na coleta seletiva de resíduos sólidos da cidade de São Luiz do Paraitinga. É necessário que todas as escolas do município e o Núcleo de Santa Virgínia estejam contemplados no cronograma de coleta municipal.

Posto de Reciclagem e Aterro Sanitário
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Engajamento político

A professora Leda Nardi lembra que em meados dos anos de 2019 viu estacionado na porta da EMEF Cassiana dos Santos Moreira, onde dava aulas no bairro dos Alvarengas, um carro personalizado com o nome da empresa que planta eucalipto na região. Haviam chegado ali duas pessoas diferentes que despertaram a curiosidade de todos. 

A professora Leda lembra que o pátio estava organizado da maneira como fazem para os grandes eventos da escola: cadeiras dispostas de frente para o telão, devidamente posicionado, com caixa de som instalada e professores e alunos curiosos sobre o que aconteceria ali.

Como de costume, no horário da entrada, os alunos se reuniram por ali e o diretor comunicou que as moças faziam parte da equipe pedagógica da empresa de “reflorestamento” que atua nas redondezas. Elas apresentariam um jogo desenvolvido pela empresa aos alunos.

Mesmo pegos de surpresa, alunos e docentes se colocaram abertos para conhecer a novidade.

O evento estava organizado para acontecer em dois momentos: na primeira fase elas fariam a apresentação do projeto e depois do intervalo para a merenda, os alunos poderiam manusear o jogo.

Nessa primeira fase elas usaram imagens projetadas no datashow para elucidar o argumento da empresa de que o eucalipto não prejudica o solo, pois trata-se de um processo de reflorestamento, portanto, o eucalipto seria um benefício para o meio ambiente, já que árvores são plantadas onde antes era pasto. Durante uma hora e meia elas discorreram sobre o assunto, utilizando como apoio algumas imagens que não estavam, de fato, adequadas para a idade dos alunos, pois o projeto contemplava atender os anos iniciais do Ensino Fundamental e não os anos finais, como era o caso.

Na hora do intervalo para a merenda, alunos e professores se recolheram nas salas de aula para que o pátio fosse reorganizado e, assim que a porta da sala de aula se fechou, os alunos do 9º ano questionaram as informações que foram passadas até aquele momento. A professora Leda conta que diziam assim: “elas pensam que a gente é bobo, que vai acreditar nesse papo de que eucalipto não faz mal para o meio ambiente! A gente vê! A gente sente! A gente percebe que o clima fica mais seco, que os córregos secam, que os passarinhos somem! A gente não é bobo não!”.

A professora, então, orientou seus alunos a se posicionarem durante a conversa com as funcionárias da empresa e expor seus argumentos e críticas através de suas experiências, conhecimentos e informações a respeito do assunto.

Após o intervalo, os alunos jogaram o jogo desenvolvido pelo pedagógico da empresa e se divertiram muito. A finalização da visita se deu com uma roda de conversa na qual os alunos do 9º ano manifestaram o seu desconforto. 

A professora Leda destaca que os alunos foram muito educados e respeitosos com o trabalho apresentado, mas não aceitaram receber informações sem contra argumentar a partir de suas próprias experiências e observações.

Os alunos disseram a elas que percebiam as mudanças ambientais em decorrência do plantio de eucalipto, que observavam que o ritmo de crescimento do eucalipto é mais acelerado do que as demais árvores e que não era possível que isso não prejudicasse o solo. Que eles sabiam que qualquer tipo de monocultura empobrece o solo, que o pasto é ruim, mas que o eucalipto plantado de forma extensiva, também é. E, acima de tudo, eles sabiam que onde se planta eucalipto não mora ninguém, pois as pessoas do bairro estavam sendo empurradas para fora dos lugares onde nasceram por conta da plantação.

A professora lembra que as moças da empresa não rebateram, apenas ouviram, porque ali estavam relatos de vida, observações e vivências dos sujeitos que sentem na pele e no ar que respiram as alterações climáticas provocadas pela monocultura de eucalipto. E comentou que, o mais bonito disso tudo é que, mesmo tão jovens, tiveram a coragem de manifestar suas opiniões, de maneira respeitosa, defender o lugar onde vivem e sua cultura de origem. 

Para a professora a monocultura de eucalipto vem correndo paralelamente com a falta de reconhecimento da pluralidade cultural na região e acredita que estamos todos passando por uma homogeneização,  que é prejudicial ao meio ambiente e ao ser humano. E acredita que a formação de alunos críticos, que associam conhecimentos teóricos, empíricos e arriscam comunicar a sua maneira, é fundamental para ampliar o diálogo e fortalecer o engajamento político diante de assuntos tão complexos da atualidade.

Engajamento político
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